A primeira leitura destaca o mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,17-18). Para Israel, somente é possível amar a Deus se há amor ao próximo. Mas ao longo da história, houve uma tendência de interpretar esse mandamento em sentido restrito, reservando a prática do amor apenas para o compatriota. Com sua vinda Jesus restaura o mandamento original para a sua amplitude universal.
O mundo julga ser loucura retribuir o ódio com o amor, o mal com o bem, as ofensas com o perdão. Mas Paulo, na 2ª. leitura, vai proclamar em alto e bom som que os cristãos não devem se preocupar quando o mundo os julga loucos, porque afinal “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Cor 3,19).
O amor a Deus se reflete no amor ao próximo. Nisso consiste a vida cristã configurada a Cristo. Uma vez que o Pai ama a cada ser humano indistintamente, a vocação cristã consiste em amar o próximo não como a si mesmo, mas como Cristo o amou. Somente pelo amor as divisões são superadas, a violência extinta, a fraternidade instaurada. E, com isso, a santidade de Deus será comunicada a todos os povos.
Com o Sermão da Montanha Jesus supera a lei do talião (do “tal qual”), “olho por olho”, “dente por dente”: instaura a “nova” justiça do Reino. A posição de Jesus é tão coerente e compreensível que visa superar o mal, pois pagando o mal com o mal, nunca se sai do “status quo”, do círculo vicioso da vingança, da violência. Mas para Jesus o cerne se encontra no amor do Pai: amai-vos gratuitamente como o Pai vos amou. Não é retribuição, é ação de ir ao encontro para manifestar e expressar o amor.
Mas como isso é possível: amar até os inimigos? Jesus não está preocupado se é possível ou não, simplesmente diz que deve ser assim, pois Deus é assim. Deus faz surgir o sol sobre bons e maus e a chuva descer sobre justos e injustos. Pois todos são seus filhos. Alguém como sempre retrucará: mas eu não sou Deus! E a resposta clara de Jesus: “não és Deus, mas procura ser perfeito como ele, perfeito como teu Pai celeste é perfeito; então, serás realmente seu filho!” (só para lembrar: parece que o filho deve ter as feições do pai! Ou não?).
Jesus não veio facilitar a nossa vida. Veio para nos tornar semelhantes ao Pai, mesmo sabendo que sempre ficaremos devendo alguma coisa e que por própria força nunca chegaremos a isso. Também não é uma questão de esforço, mas de amor e de graça. É preciso estar aberto à graça. Uma vez conscientes de que Deus nos ama de graça (Rm 5,6-8 e 1Jo 4,10.19), já não vamos achar estranho amar de graça os que não nos amam. Quando entendermos bem e profundamente o amor gratuito (embora não sei se existe amor que não seja gratuito!) não vamos achar estranho convidar os que não nos podem retribuir (cf.Lc 14,12ss).
O amor de Deus é sempre criador: Cria uma situação nova, que não existia antes (e sempre uma situação de bem-estar, de paz, de felicidade). Sabendo e tomando consciência de que estamos envolvidos nesse amor paterno - criador e gratuito - seremos capazes de imitá-lo um pouco. Seremos, não por nosso esforço, mas por saber–nos amados, realmente os seus filhos. E almejaremos o dia em que a morte porá fim às nossas incoerências, para que Ele nos acolha plena e definitivamente.
Já no Primeiro Testamento encontramos os mandamentos de não guardar rancor e do amor ao próximo (Lv 19,17-18.35). Todos esses mandamentos se baseiam na mesma verdade: todas as pessoas são filhos do mesmo Pai.
A liturgia de hoje supõe que estejamos imbuídos da consciência filial com relação a Deus. “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios” (salmo responsorial 102).
Paulo, falando da sabedoria do mundo como geradora de vanglória, partidarismos e outras atitudes demasiadamente humanas, proclama a sabedoria da cruz de Jesus Cristo. Os critérios humanos são loucura diante de Deus. Paulo ironizou os coríntios: eu sou de Paulo, de Apolo, de Cefas … E hoje? Talvez não teria que ironizar também adeptos fanáticos de movimentos, tradições, teologias? É preciso não perder de vista: “todos nós, apóstolos, somos vossos; e não só nós, mas toda a rea-lidade da criação é vossa … mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1Cor 3,21-23).
“Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo!” … “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito!” … “Acaso não sabeis que sois santuários de Deus e o Espírito de Deus mora em vós?” Manter a semelhança com Deus é manter a perfeição, ou seja, a santidade. Ser santo ou perfeito significa guardar a Palavra de Deus e levar uma vida em tal conformidade com o evangelho, que ela seja reconhecida como cumprimento da vontade de Deus. “Vós sois de Cristo e Cristo é de Deus!” Assim resume Paulo sintetizando que na pertença ao Senhor consiste a santidade e a perfeição.
Fonte: celebrando.org.br
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