Talvez sirva o exemplo do filho que não gosta de verduras, mas as come porque há alguém que o ama por perto. O conhecimento do valor da palavra de Deus, o conhecimento de Deus mesmo como sendo minha eternidade, só conseguirei pela prática das suas palavras. A questão é escutar e fazer. Não é ver para crer. É fazer para ver (que é verdade e dá certo e é bom!).
Proclamar nossa fé é dar crédito a Deus, não somente em palavras mas em atos e fatos. Nossa verdade não está em nossas fórmulas intelectuais, mas em nosso agir. Fé é agir conforme o espírito de Cristo superando nossa auto-suficiência, nossa temeridade de obrigar a Deus a retribuir-nos pelas nossas obras piedosas.
Parece que a mensagem de Paulo seja diferente, pois diz que somos justificados pela fé e não pelas obras da Lei. Mas não é verdade. Paulo se refere às obras da Lei, como obrigações e imposições externas sem nada a ver com o coração, a consciência, a alma. Obras que não são feitas dentro da vontade de Deus; vontade que, antes de tudo, quer que a gente se converta e confie a Jesus Cristo. Obras que são simplesmente cumprimentos exteriores e vazios de conteúdo. Cumprir por cumprir. Ou cumprir para levar vantagem material.
Paulo diz que as obras não “justificam” ninguém diante de Deus. Mas ele não fala da prática da caridade, mas de outra coisa: da observância da lei judaica, que alguns convertidos queriam que todo mundo praticasse para ser justo. Mas se assim fosse, por que Cristo morreu?, pergunta Paulo. Só aderindo a Jesus na fé é que correspondemos ao que Deus espera de nós, e então vamos pôr em prática, não as obras da lei judaica, mas o amor fraterno que Cristo ensinou (como diz Paulo em Gl 5,6).
Confiar-se a Jesus Cristo, que morreu por nós, como o justo que derramou seu sangue pelos injustos - pura graça “gratuita” de Deus. Na fé nele somos feitos justos também. As nossas ações devem ser a consequência da fé, da confiança em Jesus Cristo, que invade o nosso coração e o transforma, quando descobrimos nele o grande amor que Deus nos tem. Um pouco como a criança que se decide a comer jiló quando percebe o quanto sua mãe a ama. Descobre um amor que merece crédito e, por isso, age conforme o desejo de quem assim ama.
Os que se dizem “cristãos praticantes” realmente praticam o que Deus espera deles? Deus não se satisfaz com vazias declarações de amor. Ele queria que os israelitas tivessem diante dos olhos e – no coração – a sua lei e a cumprissem com empenho. Não bastava ter a lei pendurada na testa, nas mãos, nas fimbrias dos mantos … eram simples sinais exteriores e vazios. Por isso, Jesus vai dizer claro e em alto e bom som: é preciso escutar a Palavra e a pôr em prática. Vale lembrar a parábola da semente…
Muitos querem ser cristãos de modo festivo e sentimental sem tirar as conclusões práticas das palavras de Jesus. Levantam as mãos na missa, mas não as abrem para seus irmãos pobres, nem abrem mão de seus privilégios de classe, que contrariam a justiça social. Dão esmola, mas exploram seus empregados. Mimam seus filhos em vez de os educar para a justiça do Reino. Isso é construir sobre a areia.
Mas para praticar, precisa antes “ouvir”. E ouvir com atenção as palavras de Jesus. Se em muitos o “pôr em prática” deixa a desejar, não menos em outros o “ouvir” com atenção. São os que projetam seus próprios impulsos e interesses nas palavras de Cristo, os que escutam apenas suas próprias ambições e paixões, dando-lhes aparência cristã. Para seguir Jesus Cristo é preciso “ouvir com o coração” o que ele diz de fato. Para isso, é preciso parar, silenciar a alma e o coração, abrir a mente… colocar-se em oração (quando fores rezar… entra no teu quarto… fecha a porta… e ora ao teu Pai em segredo!). O evangelho nos alerta para “ouvir e pôr em prática”.
1 Sm 16,7b - Deus vê, não como o homem vê, porque o homem toma em consideração a aparência, mas o Senhor olha o coração.
2 Cor 3,3 - Sois uma carta de Cristo, escrita não em tábuas de pedra, mas nos corações.
Rm 8,35.37 - Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação…perseguição… angústia… fome…nudez… perigo… espada?… mas em tudo somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.
Sl 61,10-11 - Todo homem a um sopro se assemelha, o filho do homem é mentira e ilusão; se subissem todos eles na balança, pesariam menos do que o vento: não confieis na opressão, na violência, nem vos gabeis de vossos roubos e enganos! E se crescerem vossas posses e riquezas, a elas não prendais o coração!
Fonte: celebrando.org.br
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