sábado, 5 de março de 2011

Reflexão do 9º Domingo Comum - Mt 7, 21 – 27

Quantas vezes, numa celebração eucarística, chamamos Jesus de “Senhor”? Quantas vezes se fala de bênção, de fé, de Deus? No entanto, tudo isso pode ser vazio diante daquele que nos conhece por dentro. Diante daquele que vê o nosso interior, o nosso coração. Daquele que vê as nossas intenções verdadeiras!
Eucaristia é o lugar onde celebramos a vida, onde aprofundamos o verdadeiro sentido da nossa vida, onde nos abrimos para renová-la: deixar de lado o que não contribui para o bem e comprometer-nos com o caminho novo (… embora insistimos em seguir sempre o caminho velho! ).
Como estamos construindo a nossa vida? Onde a estamos alicerçando? No dia do encontro com o Senhor – o dia do Senhor e o nosso dia - poderemos abrir os braços – e o coração – e dizer bem feliz: “Vem, Senhor Jesus!, pois teremos a plena certeza de não só termos “repetido e clamado Senhor, Senhor”, mas vivido a mensa-gem desse Jesus Salvador que nos salvará integralmente.
Bênção ou maldição são conseqüências de nossas escolhas e de nossos atos. Não é uma loucura certas escolhas que fazemos e certas ações que praticamos? Que frutos, que resultados delas esperamos? Dizemo-nos tão inteligentes e às vezes, escolhemos tão mal. E nem nos importamos com as conseqüências, como se elas não viessem ou não existissem. Queremos e insistimos em querer ir contra a natureza: plantamos espinhos e cardos e queremos colher uvas doces e melífluas. Isso é de uma insensatez sem tamanho! E fazemos questão de nos enquadrarmos no século dos maiores progressos jamais alcançados pela humanidade! (…não sei, mas será que Jesus não diria: ai de vós, hipócritas … e não sei mais o quê!)
Seja feita a vossa vontade. Acho que rezamos assim: seja feita a minha vontade. A vontade do Pai dá muito trabalho, é muito exigente, contraria as minhas pretensões. A vontade do Pai é o Reino de Deus para todos. Isso implica justiça, fraternidade, partilha, gratuidade, solidariedade, preocupação com os outros, esquecer-se de si, não pensar só em acumular para não passar necessidade depois, desgastar-se para que o outro seja feliz, dar a vida pelo outro (… Isso é demais! - Assim não dá para encarar!).
Os antigos israelitas sabiam que a observância da Lei servia para o bem da pessoa, mas interpretavam a vantagem de observá-la num sentido de prosperidade material, longevidade e numerosa descendência. Jesus vem dizer que seguir suas palavras não dá vantagens materiais, mas o Reino de Deus.
Entre nós há os que dizem “Senhor, Senhor” e mostram sua adesão em efusivas palavras piedosas, mas na prática não tem uma vida condizente com o espírito de Cristo: estes não tem chances naquele dia do encontro. Seria melhor que dissessem não, mas que suas ações fossem “sim”. Escutar e pôr em prática…
Por que as palavras de Cristo tem valor de critério definitivo? Porque ele é Deus? Sim. Mas também por dedução prática. Comece a viver conforme o espírito do Sermão da Montanha, ama teus inimigos, dá o dobro daquilo que te é pedido, guarda teu coração puro - … e você descobrirá e sentirá uma felicidade que vale para sempre e que não se desfaz com o tempo. Mas aí está a dificuldade
Mas aí está a dificuldade. Muitos gostariam de ter provas antes, de experimentar. O difícil é que é preciso praticar antes para depois ver o resultado… mas talvez valha a pena dar um voto de crédito a quem deu o sangue para provar que era verdadeiro!

Talvez sirva o exemplo do filho que não gosta de verduras, mas as come porque há alguém que o ama por perto. O conhecimento do valor da palavra de Deus, o conhecimento de Deus mesmo como sendo minha eternidade, só conseguirei pela prática das suas palavras. A questão é escutar e fazer. Não é ver para crer. É fazer para ver (que é verdade e dá certo e é bom!).

Proclamar nossa fé é dar crédito a Deus, não somente em palavras mas em atos e fatos. Nossa verdade não está em nossas fórmulas intelectuais, mas em nosso agir. Fé é agir conforme o espírito de Cristo superando nossa auto-suficiência, nossa temeridade de obrigar a Deus a retribuir-nos pelas nossas obras piedosas.

Parece que a mensagem de Paulo seja diferente, pois diz que somos justificados pela fé e não pelas obras da Lei. Mas não é verdade. Paulo se refere às obras da Lei, como obrigações e imposições externas sem nada a ver com o coração, a consciência, a alma. Obras que não são feitas dentro da vontade de Deus; vontade que, antes de tudo, quer que a gente se converta e confie a Jesus Cristo. Obras que são simplesmente cumprimentos exteriores e vazios de conteúdo. Cumprir por cumprir. Ou cumprir para levar vantagem material.

Paulo diz que as obras não “justificam” ninguém diante de Deus. Mas ele não fala da prática da caridade, mas de outra coisa: da observância da lei judaica, que alguns convertidos queriam que todo mundo praticasse para ser justo. Mas se assim fosse, por que Cristo morreu?, pergunta Paulo. Só aderindo a Jesus na fé é que correspondemos ao que Deus espera de nós, e então vamos pôr em prática, não as obras da lei judaica, mas o amor fraterno que Cristo ensinou (como diz Paulo em Gl 5,6).

Confiar-se a Jesus Cristo, que morreu por nós, como o justo que derramou seu sangue pelos injustos - pura graça “gratuita” de Deus. Na fé nele somos feitos justos também. As nossas ações devem ser a consequência da fé, da confiança em Jesus Cristo, que invade o nosso coração e o transforma, quando descobrimos nele o grande amor que Deus nos tem. Um pouco como a criança que se decide a comer jiló quando percebe o quanto sua mãe a ama. Descobre um amor que merece crédito e, por isso, age conforme o desejo de quem assim ama.

Os que se dizem “cristãos praticantes” realmente praticam o que Deus espera deles? Deus não se satisfaz com vazias declarações de amor. Ele queria que os israelitas tivessem diante dos olhos e – no coração – a sua lei e a cumprissem com empenho. Não bastava ter a lei pendurada na testa, nas mãos, nas fimbrias dos mantos … eram simples sinais exteriores e vazios. Por isso, Jesus vai dizer claro e em alto e bom som: é preciso escutar a Palavra e a pôr em prática. Vale lembrar a parábola da semente…

Muitos querem ser cristãos de modo festivo e sentimental sem tirar as conclusões práticas das palavras de Jesus. Levantam as mãos na missa, mas não as abrem para seus irmãos pobres, nem abrem mão de seus privilégios de classe, que contrariam a justiça social. Dão esmola, mas exploram seus empregados. Mimam seus filhos em vez de os educar para a justiça do Reino. Isso é construir sobre a areia.

Mas para praticar, precisa antes “ouvir”. E ouvir com atenção as palavras de Jesus. Se em muitos o “pôr em prática” deixa a desejar, não menos em outros o “ouvir” com atenção. São os que projetam seus próprios impulsos e interesses nas palavras de Cristo, os que escutam apenas suas próprias ambições e paixões, dando-lhes aparência cristã. Para seguir Jesus Cristo é preciso “ouvir com o coração” o que ele diz de fato. Para isso, é preciso parar, silenciar a alma e o coração, abrir a mente… colocar-se em oração (quando fores rezar… entra no teu quarto… fecha a porta… e ora ao teu Pai em segredo!). O evangelho nos alerta para “ouvir e pôr em prática”.

1 Sm 16,7b - Deus vê, não como o homem vê, porque o homem toma em consideração a aparência, mas o Senhor olha o coração.

2 Cor 3,3 - Sois uma carta de Cristo, escrita não em tábuas de pedra, mas nos corações.

Rm 8,35.37 - Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação…perseguição… angústia… fome…nudez… perigo… espada?… mas em tudo somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.

Sl 61,10-11 - Todo homem a um sopro se assemelha, o filho do homem é mentira e ilusão; se subissem todos eles na balança, pesariam menos do que o vento: não confieis na opressão, na violência, nem vos gabeis de vossos roubos e enganos! E se crescerem vossas posses e riquezas, a elas não prendais o coração!

Fonte: celebrando.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário