Depois do estudo dos quatro evangelhos para conhecer a pessoa de
Jesus Cristo e sua mensagem em preparação ao novo milênio retornamos 10
anos depois com o estudo dos evangelhos, mas agora com outros enfoques e
desafios. Assim como foi estudado no mês da Bíblia de 2012 o evangelho
de Marcos este ano estamos estudando o evangelho de Lucas.
A proposta agora é conhecer o Evangelho de Lucas sob o olhar do
discipulado-missionário, conforme o enfoque do Projeto de Evangelização:
O Brasil na missão Continental assume o tema do mês da Bíblia de 2013.
O tema para o mês bíblico 2013 se alia a caminhada do ano Litúrgico, o
ano C, em que privilegia o evangelho de Lucas relevando os cinco
aspectos fundamentais do processo do discipulado:
- o encontro com Jesus Cristo;
- a conversão;
- o seguimento;
-a comunhão fraterna;
- e a missão propriamente dita.
O lema para este mês Bíblico que foi indicado pela
Comissão Bíblico-Caquética da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB)
é: "Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido" (Lc 15).
Quem é o autor do evangelho de Lucas?
Desde os primeiros séculos os autores consideram que o evangelho seja
de Lucas. Muitos comentaristas atribuem ao evangelista Lucas à
profissão de médico (cf. Cl 4,14) e o identificam com o discípulo e
colaborador e secretário de Paulo (cf. Fm 23ss, 2Tm 4,11). Possivelmente
tratou Paulo em suas enfermidades.
As narrativas que encontramos no evangelho de Lucas e Atos dos
Apóstolos indicam que Lucas possui vasto conhecimento da língua e
cultura grega sendo influenciado pelo estilo dos historiadores de sua
época (Lc 2,1-2) dos poetas gregos; utilizando a tradução grega da
Bíblia e conhecendo bem o Império Romano, mas quase nada da Palestina.
No seu Evangelho muitas vezes as informações sobre a Palestina carecem
de um conhecimento mais profundo, fato este comprovado no decorrer da
narrativa.
Época? Lugar onde foi escrito? Qual era seu objetivo?
O Evangelho de Lucas deve ter sido escrito entre os anos 80 a 90 e
não há uma precisão exata sobre o lugar onde foi escrito. Se admite que
estaria entre a Grécia ou Ásia, ou mesmo a Antioquia da Síria.
Fato notório nos escritos de Lucas é a prioridade dada aos cristãos
provenientes do paganismo de cultura grega e aos judeus que moravam fora
da Palestina (na diáspora). Eram comunidades de origem Paulinas, com
imensas dificuldades de adaptação. Os escritos de Paulo confirmam este
aspecto.
Diante da catástrofe que foi a guerra judaica (70 d.C.), do cerco e
destruição da cidade de Jerusalém por Tito e 4 legiões romanas,da
destruição e incêndio do Templo de Jerusalém, da conquista de Massada 73
d.C., dos conflitos internos e externos que transparecem no texto, o
Evangelho de Lucas passou a fortalecer a fé das comunidades e reforçar o
seu papel na história da salvação e assim, mantendo-as corajosamente no
seguimento a Jesus Cristo.
Estrutura do Evangelho Segundo Lucas
Existem várias formas de estruturar o Evangelho de Lucas, podemos
afirmar que cada comentarista elabora uma estrutura segundo aquilo que
desenvolve. Optamos para a proposta de subdividi-lo em seis partes,
poderão seguir outras.
A primeira parte (Lc 1,1-4). Consta do prólogo, no
qual o autor explica os motivos que o levaram a escrever o Evangelho,
apresenta o método utilizado e o dedica a Teófilo. Esta abertura é muito
interessante e mostra o que verdadeiramente Lucas se propõe.
A segunda parte (Lc 1,5-4,15). Lucas apresenta um
paralelo entre o nascimento e a infância de João Batista e Jesus.
Acontecimentos que envolvem a João Batista como a pregação e
encarceramento de João Batista contrapondo o ministério público de Jesus
(batismo, sua genealogia e as tentações – (Lc 3,1-4,13).
A terceira parte (Lc 4,14-9,50) o autor relata o
Ministério de Jesus na Galileia, o acontecimento na sinagoga de Nazaré a
rejeição, as atividades se centralizam em Cafarnaum e no lago;
discussões com os fariseus, ensinamentos, milagres, parábolas e questões
referentes à sua identidade. A parte conclusiva deste período de vida
de Jesus conclui-se com a transfiguração, no monte Tabor, onde ele vai
com Pedro Tiago e João seus testemunhas.
A quarta parte (9,51-19,27). Lucas narra a viagem de
Jesus, com seus discípulos a Jerusalém. Eles percorrem o caminho da
Samaria, entre as montanhas. Os judeus não faziam este trajeto, pois não
se davam bem com os samaritanos, preferiam o caminho do vale do Rio
Jordão até Jericó e depois subiam a Jerusalém, pela antiga estrada
romana do deserto da Judéia. Jesus aproveita esta caminhada para
instruir seus discípulos e discípulas, as exigências no seguimento e os
pontos fundamentais que dariam a base do Reino de Deus.
A quinta parte (Lc 19,28-21,38) Jesus em Jerusalém
com a entrada e atividade na área do Templo e o discurso escatológico.
Tudo se prepara para o desfecho final.
A sexta parte (22,1-24,53) aparecem as narrativas da
paixão, morte, sepultamento de Jesus (22,1-23, 56a), as aparições de
Jesus ressuscitado (23,56b-24,35) o episódio do túmulo vazio e da
conversa com os discípulos de Emaús a caminho de Emaús (24,13-35); e
finaliza com a ascensão ao céu (24, 36-53).
Pontos fundamentais da Teologia Lucana.
Na leitura do evangelho de Lucas destacamos os pontos fundamenta da
Teologia Lucana. Dar importância a estes pontos ajudam a termos uma
compreensão mais rápida e profunda: Seus escritos buscam acentuar sempre
a Teologia da História da Salvação, destacando os títulos cristológicos
de Jesus Cristo e ressaltando a importância de Jerusalém. Outros pontos
teológicos se consideram colunas fundamentais: mostra um Jesus que reza
e ensina a rezar, Lucas não tem medo de ressaltar o papel e a
importância das mulheres no seguimento, a contraposição entre pobreza e
riqueza (comunidades paulinas que surgem nas periferias das grandes
cidades portuárias do Império Romano), como uma das características da
ética Lucana e a presença forte do Espírito Santo, podemos dizer que o
evangelho de Lucas seja o evangelho do Espírito.
Chaves de leitura do evangelho de Lucas a partir dos pontos fundamentais.
Em Lucas aparece uma Teologia da História.
A Teologia Lucana é marcada por uma ênfase na história da salvação, que é dividida em três períodos:
1) o tempo da preparação, ou período da promessa, que seria a
história de Israel (AT), representado pelas personagens Zacarias, Isabel
e João Batista;
2) o tempo do cumprimento da promessa que é o tempo da vida de Jesus; e
3) o tempo do anúncio, da Igreja, retratado no Livro dos Atos dos Apóstolos.
Uma peculiaridade na concepção histórico-salvífica de Lucas é sua
abertura universal.
Portanto, a salvação atinge todo o tempo e todas as
pessoas, a humanidade (cf. Lc 2,30-32; 3,6; 9,52-53; 10,33; 17,16). Com
isso, nos aponta para outro ponto fundamental que é o tema da Salvação.
Em Lucas a Salvação e para todos.
A salvação que Lucas demonstra em seu evangelho acontece na história.
A compreensão da Teologia Lucana, demonstra que os termos salvação e
libertação são equivalentes. Para os pequenos, pobres, marginalizados do
Império Romano, a proposta de Jesus é avassaladora. Iria mudar suas
vidas iria fazê-los senhores da própria história. A totalidade da pessoa
humana seria salva. Nesse sentido, Jesus é o nosso "Salvador" (Lc 2,11;
cf. At 5,31; 13,23), supera todas as propostas vinda da "paz Romana" e a
ilusão de que o Imperador traria uma nova forma de vida.
Em Lucas Jesus Cristo se mostra misericordioso.
Teologia Lucana apresenta Jesus Cristo como compassivo e
misericordioso (cf. Lc 7,13; 10,33; 15,20); Jesus profeta escolhido pelo
Pai recebe uma missão de levar a Boa Nova aos pobres, aos pequeninos,
aos que se encontram nas periferias das grandes cidades portuárias
romanas (Lc 4,16-30; 7,36-50; 13,32-34). Em Jesus se realiza a revelação
de Deus (Lc 1,42). Assim aparece no batismo, assim se manifesta na
transfiguração do monte Tabor. No ministério público Jesus é apresentado
como o Messias enviado por Deus, para salvar o seu povo (Lc 1,47;
2,11.30-32).
Lucas em sua narrativa mostra um Jesus que vai ao encontro dos
samaritanos, valoriza os publicanos em Lc 5,27: Levi e em Lc 19,2-10:
Zaqueu, dos pecadores (Lc 7,36-50; Lc 15,11-32); da viúva (Lc 7,11-17),
enfim dos marginalizados e excluídos da sociedade. O Jesus de Lucas veio
para todos e quer salvar a todos. Seu plano de evangelização começa com
aquilo que é menosprezado e rejeitado pela sociedade.
Jesus ama a cidade de Jerusalém
O evangelho de Lucas dá grande destaque a cidade de "Jerusalém". Tudo
começa e termina em Jerusalém (1,5-23; 24,53). Jesus não se omite de
participar das festas de preceito realizadas no templo, em Jerusalém
(2,22.42), e metade do evangelho de Lucas narra ou em viagem para
Jerusalém ou em estadia nessa cidade (9,50-21,38). Concluindo podemos
afirmar que a cidade de Jerusalém é o ponto de chegada de Jesus para
realizar a obra (Lc 17,11; Lc 19,28-38) e o ponto de partida para as
comunidades assumirem após a ressurreição, a continuidade de sua missão
(Lc 24,52).
Jesus vive em Oração..
Lucas coloca em destaque a vida de oração de Jesus a tal ponto que o
evangelho se entrelaça com os momentos de oração de Jesus, são muitos
textos. Os momentos mais importantes de sua vida, as decisões mais
radicais são preparadas pela oração. (Lc 1,10-11.13; 3,21; 5,16.33;
6,12; 9,18.28; 11,1.2-8; 18,9-14; 22,32.41; 23,46).
Em Lucas encontramos um Jesus que reza, nos mostra qual é conteúdo da
oração (Lc 10,21-24; 22,42; 23,46), atende o pedido dos discípulos e
ensiná-los a rezar (Lc 11,1) mostra que a eficácia da perseverança na
oração tem resposta de seu Pai (Lc 18,1-8; 19,6-8; 21,36).
A ética Lucana.
A ética que Lucas apresenta em seu evangelho é voltada para os pobres e marginalizados. Existe uma contraposição entre pobreza e riqueza sendo um dos aspectos centrais do seu programa ético.
Priorizando esta ética Lucas reforça a dimensão do despojamento, como
uma exigência do seguimento a Jesus (Lc 5,11; 6,29-36; 9,58; 12,33-34;
14,33; 18,22.25; 21,1-4). Desta sua compreensão ele pede as comunidades
confiarem na providência divina (12,29-30).
As mulheres são discípulas de Jesus.
Possivelmente por influência da cultura grega o evangelista Lucas
cita um número maior de mulheres seguidoras e discípulas de Jesus dos
outros evangelistas. É considerado o Evangelista das mulheres.
(Personagens). Não esta apegado a estrutura patriarcal da família
Judaica e do menosprezo do judaísmo pela mulher que as consideram
impuras. A religião Judaica impõe duramente o sistema do "Puro e do
Impuro" Em Lucas a mulher participa da evangelização, acompanha o grupo
dos discípulos atua na obra de Jesus.
Maria, mãe de Jesus para Lucas é aquela que se dispõe a participar da
história da salvação. É nela que começa a se manifestar o mistério do
Deus encarnado. Maria passa ser o modelo do discípulo/ da discípula,
pois acolhe Jesus, está presente no seu ministério (4,16-30), discurso
inaugural da sinagoga de Nazaré. Além de Maria encontramos ao longo do
evangelho de Lucas outras mulheres: Maria, chamada Madalena, Joana,
mulher de Cuza, Suzana, que seguem Jesus desde a Galileia (Lc 8,1-3),
elas estão presentes na sua morte e são as primeiras testemunhas da
Ressurreição (Lc 22,27 e 23,50-56), as mulheres Maria Madalena, Joana e
Maria, mãe de Tiago. Também são narradas várias curas e encontros
significativos, nos quais as mulheres são protagonistas: a sogra de
Pedro, a mulher pecadora, a mulher com fluxo de sangue.
O Espírito Santo tem prioridade.
A presença do Espírito Santo como força que acompanha, conduz e
inspira a missão de Jesus e da Igreja. Ele age em Jesus, Zacarias,
Isabel, João Batista, Maria, Simeão, profetisa Ana e muitas outras
pessoas.
Ser Alegre é seguir a Jesus Cristo.
A última chave de compreensão do evangelho é o tema da alegria. O
autor reforça a certeza de que a verdadeira alegria nasce do seguimento
de Jesus, do agir misericordioso, do desprendimento constante, do se
deixar guiar pelo Espírito, da experiência profunda de que Jesus Cristo
morto e ressuscitado é a Boa-Nova para toda a humanidade.
Fonte: diocesedeassis.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário