sexta-feira, 8 de abril de 2011

CF - Julgar

O nosso Deus é o Deus da vida

A Bíblia inicia mostrando a vitória de Deus sobre o caos, organizando o cosmos e revelando-se como doador da vida. Na primeira narração da criação (Gn 1:2, 4a), o Deus criador vai gerando a vida na “semana da criação”. Deus dá à terra o poder de gerar frutos, árvores, sementes, ervas e verduras (Gn 1:12). O texto vai repetindo a cada etapa: “E Deus viu que era bom”. Deus criou, por meio de suas palavras, todas as realidades, formando uma grande solidariedade cósmica, como vemos na narrativa dos cinco primeiros dias, à qual se integram os animais selvagens, domésticos e pequenos do chão, segundo suas espécies, e o ser humano, criados no sexto dia. E o texto diz: “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1:31).
Podemos notar facilmente a harmonia entre os planos de realidade: o temporal, expresso nos seis dias de trabalho; o espacial, das realidades criadas nos seis dias, desde a primeira; a luz, até o ser humano, de modo que é estabelecida uma unidade formada de coisas distintas que se entrelaçam.

Desse modo, o ser humano vai dividir o mesmo espaço com esses animais, que foram criados ao seu lado. No texto bíblico citado, podemos notar que os animais da terra ganham autonomia e são colocados sobre o mesmo espaço em que se encontram os seres humanos. É evidente que há uma diferença fundamental entre os homens e os animais, que é de ordem sobrenatural, pois os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus e receberam o seu sopro em suas narinas, mas, enquanto seres naturais, eles se encontram unidos em um equilíbrio dinâmico, o que não lhes concede o direito de se utilizar da natureza segundo seus caprichos, de modo a causar destruição e colocá-los em perigo.
Tendo em vista todos os problemas do meio ambiente, frutos de um processo desmedido de utilização dos bens do planeta, é oportuna uma reflexão acerca do mandado “[...] enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão” (Gn 1:28). Para esse intento, é fundamental compreender o significado de alguns verbos, como submeter e dominar.
O lugar do ser humano na criação

O salmista, logo após indagar sobre o que é o ser humano, afirma: “[...] o fizeste só um pouco menor que um deus, de glória e honra o coroaste” (Sl 8:6). Dessa forma, indica que o ser humano foi criado de modo especialíssimo no reino da criação porque, mesmo sendo um ser integrante da natureza, transcende-a, e essa transcendência, embora não tire do ser humano sua condição natural, traz outras implicações que dão sentido à natureza e geram responsabilidades em relação a ela. O primeiro relato da criação, no livro do Gênesis, expressa essa condição humana com a afirmação de que “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher, Ele os criou” (Gn 1:27).
As realizações humanas, assim como as construções e até mesmo sua procriação, devem contribuir para que esse objetivo seja atingido, dando continuidade à obra de Deus. E, tendo em vista essa responsabilidade conferida ao ser humano, é oportuno recolocar uma pergunta que o saudoso Papa João Paulo II inseriu em um de seus escritos: “Todas as conquistas alcançadas até agora, bem como as que estão projetadas pela técnica para o futuro, estão de acordo com o progresso moral e espiritual do homem?”. E suas preocupações ao estender seu olhar para aquele momento histórico o fizeram continuar com suas indagações: “Crescem verdadeiramente nos homens, entre os homens, o amor social, o respeito pelos direitos de outrem... ou, pelo contrário, crescem os egoísmos... a tendência para dominar os outros, para além dos próprios e legítimos direitos e méritos, e a tendência para desfrutar de todo o progresso material e técnico-produtivo exclusivamente para o fim de predominar sobre os outros ou em favor deste ou daquele outro imperialismo?”.Os problemas levantados por essas interrogações se encontram entre os motivos da atual crise ecológica que coloca em risco a vida no planeta.

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