domingo, 5 de fevereiro de 2012

Reflexão do Vº Domingo Comum - Ano B

*Por Adilson Silva
Amados irmãos e irmãs, a nossa condição humana, na terra, comporta, em si mesma, um grande mistério. Dentro deste, encontram-se muitos outros mistérios como o que nos é apresentado, hoje, através do livro de Jó: o do sofrimento. Na liturgia deste Domingo, o drama do sofrimento é mostrado por Jó paralelo à salvação gratuita que Jesus traz para todos. Com efeito, o tema do sofrimento levanta para nós um grande paradoxo: afinal, se Deus é amor e fomos feitos a sua imagem e semelhança, então, por que tanto sofrimento na terra? Deus é o autor do sofrimento? Na nossa vida, existe mais alegria ou tristezas? Certamente, em algum momento, já nos ocorreram estas questões. A resposta para essas interpelações encontram-se na vida e ação de Jesus que nos revela a verdadeira face Deus.

Primeira Leitura: (Jó 7,1-4.6-7) O livro de Jó é a literatura do Primeiro Testamento que reflete, de forma belíssima e profunda, o tema do sofrimento humano. Mais do que tratar do tema do sofrimento, o autor discute o que está por traz dele: a natureza da relação do homem com Deus. Recordemos que, no livro Jó, o que está presente é uma tradição que defendia o dogma da retribuição, ou seja, Deus retribui o mal com o mal e o bem com o bem. Deste modo, se alguém está sofrendo é porque cometeu algum mal em sua vida. Jó, inconformado com a visão de seus contemporâneos, busca aprofundar o sentido do seu sofrimento junto a Deus, uma vez que não ver nenhum mal em sua vida que justifica o fato de estar passando por tamanho sofrimento. Assim, ele aceita, com resignação, vontade divina que lhe permite passar por determinado constrangimentos, confiando na misericórdia de Deus.
Caríssimos, para nós cristãos, o sofrimento é o caminho, através do qual, o Senhor quer nos levar a salvação. O mundo pós-moderno possui uma ojeriza ao sofrimento, por isso vemos uma busca exacerbada pelo prazer. Existe uma tendência de se identificar o prazer, ou bem estar psicológico com felicidade: nem sempre sentir prazer significa que estamos felizes; por exemplo, a bebida produz prazer, as drogas produzem um momento de satisfação, fazer compras, em lojas, produz um bem estar psicológico, também o pecado é prazeroso (do contrário, não o praticaríamos), mas será que isso é felicidade? O sentido do sofrimento está dentro do desígnio de Deus. Jesus veio nos mostrar que, mesmo no sofrimento, podemos encontrar a felicidade, pois esta consiste em fazermos a vontade de Deus. O exemplo é-nos dado pelo próprio Cristo que mesmo na cruz estava feliz, pois cumpria plenamente a vontade de Deus.
Segunda Leitura: (1Cor 9, 16-19.22-23) São Paulo compreende que somente Deus é a verdadeira solução para nossos problemas e sofrimentos, por isso faz do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo não motivo de vanglória, mas um projeto de vida. O Apóstolo deixa para nós um grande exemplo no exercício do serviço ao Reino de Deus. Através de sua profunda experiência com Cristo, percebe a beleza e importância de um ministério exercido a partir da liberdade e gratuidade do coração. Ele não busca reconhecimentos, nem gratificações, abri mão até mesmo daquilo que lhe é de direito, tudo isso para que, através de seu desprendimento e despojamento, pudesse alcançar mais pessoas para Deus.
O testemunho de São Paulo leva-nos a refletir: como é nosso serviço na comunidade? O que buscamos quando servimos a Deus, agradar ao Senhor, ou alimentar o nosso ego e nossa vaidade? “De graça recebemos, de graça devemos dar”, essa deve ser a nossa motivação. Como é caro esse tema para nossa reflexão, uma vez que a tentação do reconhecimento, de ser melhor, de ser maior que os outros estão muito perto de nós. Irmãos, sigamos o exemplo dos santos que buscaram, na humildade de coração, se desprender de todas as satisfações reconhecimentos humanos, para, assim, encontrar o reconhecimento e a consolação do próprio Deus. Peçamos ao Senhor que nos ajude a compreender que, na generosidade de nosso serviço, está a nossa própria recompensa, e, assim, no final de tudo, possamos dizer como Jesus ensina «somos servos inúteis: fizemos apenas o que devíamos fazer» (Lc 17, 10).

Evangelho (Mt 8,17). A sogra de Simão é símbolo da humanidade doente e Jesus é aquele que vem em socorro de nossas enfermidades, que vem curar as nossas doenças. Assim, Jesus vem trazer um novo sentido para a vida das pessoas que padecem na desesperança de seus sofrimentos. Todos procuram Jesus, pois acreditam que Ele é capaz de dar um novo rumo a nossa existência. Com Jesus, podemos enfrentar a realidade de nossa vida tal como ela se nos apresenta, não precisamos colocar máscaras. Na nossa sociedade, somos forçados a usar máscaras para sermos aceitos. Uma sociedade que cultua o corpo, que estabelece padrões de beleza a serem seguidos, valoriza muito mais o “ter” do que o “ser”, aqueles que não se enquadram em determinados parâmetros de beleza estão excluídos. Daí advém as inúmeras formas de preconceitos que, cada vez mais, se cristalizam na sociedade.
Com Jesus, não precisamos de máscaras, não precisamos mostrar ser aquilo que não somos. Ele nos acolhe, nos ama com somos, não precisamos ser super-homens ou supermulheres, Cristo veio, justamente, para nós que somos carentes, que temos defeitos e que, muitas vezes, sucumbimos pela opressão de uma vida vazia e sem sentido. Abramo-nos, pois, irmãos e irmãs, para essa novidade que é Cristo, Ele de fato é essa “Boa Nova” – a Boa Notícia que nos tira da solidão e nos devolve a verdadeira alegria, outrora, ferida pelo pecado, de sermos filhos e filhas de Deus.
*Adilson Silva é seminarista da Arquidiocese de Salvador, oriundo de nossa comunidade.

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