segunda-feira, 5 de março de 2012

Que a saúde se difunda sobre a Terra

O significado de saúde e de salvação, ao longo da História, são convergentes e sempre apresentaram uma relação profunda. Em diversas línguas, os termos nasceram de uma raiz única e, por muito tempo, partilharam a mesma palavra. Em geral, saúde e salvação significavam plenitude, integridade física e espiritual, paz, prosperidade. Evidência disso é que, nas grandes romarias, o povo, em sua fé, sempre pede, mas também agradece, pela cura e saúde alcançadas. Não é algo que somente aconteceu no passado, pois ocorre ainda hoje.
As religiões sempre ofereceram respostas à busca de um sentido para a existência e seus grandes desafios, particularmente em relação à dor, ao sofrimento, ao mal e à morte, que afligem a humanidade indistintamente. Nesse sentido, procuremos ouvir não só os ensinamentos bíblicos, como também os da Teologia e da prática pastoral da Igreja a fim de iluminar essa questão, vital para todos.
Saúde na Antiguidade e na Bíblia
Desde muito cedo, a humanidade empenhou-se em conservar a saúde e vencer as doenças, além de lhes atribuir diferentes conceitos e explicações. Para muitos povos, a doença resulta da ação de forças alheias ao organismo que se instalam na pessoa por causa da desobediência a certas normas sociais, por erros cometidos em vidas passadas, por castigo de alguma divindade ofendida, pela ação de demônios ou maus espíritos.
Por outro lado, consideram que as divindades podem curar o mal, o que supõe diagnósticos, práticas e receitas curativas associadas, quase sempre, a esconjurações mágicas, que são concebidas como remédios em uma esfera na qual atuam os deuses e todos os tipos de entidades intermediárias. Assim, é comum, em diversas culturas, o recurso à religião e à magia na busca de sentido para a vida; a doença e a saúde, indicando profunda relação entre doença e religião.
Doença e saúde no Antigo Testamento
O livro do Eclesiástico considera a doença como o pior de todos os males (Eclo 30,17), um mal que faz perder o sono (Eclo 31,2). O povo judeu entendia que a falta de saúde estava intimamente ligada à culpa, ao pecado. A cura para as doenças deveria ser obtida, em primeiro lugar, pela oração (2 Sm 12, 15–23).
O Eclesiástico e a sabedoria popular em saúde

O conteúdo do livro do Eclesiástico resulta da coleta de um conjunto de ensinamentos que circulava no meio do povo. O autor desejou deixá-los por escrito para manifestar a resistência contra os dominantes da época que queriam impor sua cultura e ciência, tirando do povo de Israel sua autoestima e negando sua sabedoria. Muitas vezes, os ditos são dispostos de maneira a constituir pequenas coletâneas, como no caso do verso que inspirou o lema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Que a saúde se difunda sobre a Terra” (Eclo 38,8). Este é o verso central de uma coleção de ditos sobre a saúde e sobre o papel e a missão dos médicos e de outros profissionais que buscam preservá-la.
É importante resgatar a relação da saúde com a temperança, pois, efetivamente, a melhor forma de tratar da saúde de uma pessoa é evitar que ela adoeça. Nesse sentido, convém resgatar e valorizar as práticas centradas na prevenção, na informação, na disseminação de iniciativas que ajudam na preservação da saúde; tanto as governamentais — como campanhas de vacinação, de cuidados para evitar epidemias ou de incentivo ao pré-natal — quanto as comunitárias, que estimulam modos alternativos de alimentação, prática de esportes, exercícios físicos, entre outros.
Do texto já citado do livro do Eclesiástico (Eclo 38,1–15), ainda podemos extrair ensinamentos oportunos para a área da saúde pública, pois faz referência às pessoas responsáveis pela manutenção da saúde da população. Mais importante que curar, é o trabalho de evitar que as pessoas adoeçam e ajudá-las para que tenham saúde em abundância. Realidade que o ditado popular consagrou: “É melhor prevenir que remediar”.
O sofrimento do justo e seu significado

Talvez o livro mais significativo no Antigo Testamento, no que se refere ao tema de que estamos tratando, é o que narra a experiência de Jó. Esse escrito da literatura sapiencial aborda o problema do sofrimento relacionando doença — castigo ­pecado – Deus. Permeava a antiga cultura hebraica a concepção de que cada doença ou sofrimento se explicava pela identificação de algum pecado cometido contra Deus, que, por justiça, castiga o pecador impondo-lhe algum sofrimento. Assim, o sofrimento é o castigo infligido por Deus pelos pecados dos homens. Ele se apresenta como resposta à transgressão, pois a ordem moral objetiva exige uma pena para o pecado e para o crime. O sofrimento só tem um sentido no plano da justiça de Deus, que paga o bem com o bem e o mal com o mal.
Na leitura da experiência de Jó, percebe-se que Deus não é a origem do sofrimento nem do mal. O sofrimento faz parte da misteriosa presença do mal, que é impossível de se compreender, mas que também não pode ser atribuída exclusivamente à responsabilidade pessoal. Sobretudo, supera a ligação automática entre doença e castigo divino. Dessa forma, “que a resposta à pergunta sobre o sentido do sofrimento não fique ligada, sem reservas, à ordem baseada somente na justiça”.
Fonte: construirnoticias.com.br

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