Viver é ser chamado por Deus e entregar-se à sua Palavra. No Primeiro Testamento, Abraão é o exemplo disso. Tem de deixar toda segurança e confiar-se cegamente à promessa de Deus. No Novo Testamento, Jesus é a plenitude dessa atitude.
Antes de iniciar seu caminho rumo a Jerusalém, Jesus encontra Deus na oração, na montanha. Aí, Deus o confirma na sua vocação. E, ao mesmo tempo, dá aos discípulos segurança para que sigam Jesus. Mostra- lhes Jesus transfigurado pela glória e proclama que esse seu Filho é o portador do seu bem- querer, do seu projeto. À luz da 2ª. leitura descobrimos também que nossa vocação não é um peso mas uma graça de Deus, uma caminhada com Jesus. Portanto, não nos deve assustar.
A prática cristã exige conversão permanente para largarmos as falsas seguranças que a sociedade consumista e as ideologias do proveito próprio e do egoísmo generalizado nos prometem, para arriscar uma nova caminhada, unida a Cristo e junto com os irmãos.
Somos convidados a dar ouvidos ao Filho de Deus, (como diz o evangelho: escutai-o) e a receber de Cristo nossa vocação para caminhar atrás dele - até a glória, … mas passando pela cruz. Assim, como Abraão escutou a voz de Deus e saiu de sua cidade em busca da terra que Deus lhe prometeu, devemos também nós largar o que nos prende, para seguir o chamado do Senhor.
Isso é impossível sem renúncia (termo difícil em tempos de consumismo!). Renúncia não é algo negativo, mas positivo: é a liberdade que nos permite escolher um bem maior. Isso vale para ricos e pobres. De fato, os pobres devem descobrir a renúncia libertadora. Não privação, mas renúncia. O povo precisa renunciar ao medo, ao individualismo, ao egoísmo e outros vícios que aprisionam a pessoa no seu mundinho particular. Então poderá assumir sua vocação. E os ricos e poderosos, se quiserem ser discípulos do Cristo, terão de considerar aquilo que possuem como meio e não como fim, não como dominação e prepotência, mas como disposição maior para ser-vir e partilhar, colocando-se à disposição - de coração aberto - da construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
“Este é meu Filho amado, escutai-o”. Nunca, como hoje, foi tão difícil escutar o outro. Somos envolvidos e movidos por tanto barulho, que só sabemos fazer barulho. Não sabemos fazer silêncio (desaprendemos!). Queremos falar, falar, falar. E quando se fala não se consegue ouvir o outro. Vivemos correndo, sempre correndo atrás não sei do quê. E correndo, não dá para fazer silêncio. E correndo e sem fazer silêncio, não dá para ouvir o outro. Parece que só nós temos a verdade, por isso só nós queremos falar, falar; não deixamos os outros falarem e muito menos os escutamos. Nossos relacionamentos de fraternidade, de amizade vão tão mal porque não sabemos parar e escutar.
Escutar é uma arte. Quantas vezes, as pessoas estão falando e nós, nem bem as ouvimos, já queremos responder. Responder o quê, se nem bem as ouvimos. Estamos mais preocupados com nossos argumentos para convencer as pessoas do que escutá-las para saber o que pensam e o que estão dizendo .
Quaresma está aí para isso: para fazer-nos parar – olhar para o Pai - olhar para Jesus Cristo - e ouvir … ouvir o Espírito … ouvir Jesus… ouvir o Pai… Mais do que nunca agora é tempo da Palavra de Deus. Precisamos “arrumar tempo” para ouvir o que Deus tem a nos dizer. Precisamos fazer silêncio ao nosso derredor e no nosso interior para poder ouvir Deus (Deus fala baixinho e devagar!). Precisamos esvaziar o coração de tantas preocupações inúteis para poder “ter espaço e tempo” de ouvir Deus. Dizemos que amamos a Deus… e não temos tempo nem disposição de ouví-lo. Dizemos muitas vezes que Deus não nos fala, que não conseguimos ouvir a Deus… Jesus nos ensina: precisamos subir à montanha - deixando aqui embaixo todas as nossa preocupações - para estarmos a sós e encontrarmo-nos com o Pai. Lá teremos tempo para ouvir o Pai, para entender a mensagem e o projeto que Jesus veio trazer, e sentir o Espírito que restaura, renova e potencializa nossa vida. Só na montanha é possível estar com Deus e senti-lo plenamente e desfrutar da sua presença. Mais do que nunca nesta quaresma a Palavra de Deus deve estar, não na nossa mesa ou na nossa estante, mas no nosso coração. Parar o tempo, abrir o livro da Palavra de Deus … ler … e deixar a Palavra entrar na alma … Aí sim, sentiremos a brisa do Espírito do Deus que ventila a nossa vida e a renova. Este é o meu Filho querido, escutai-o! Sim, Pai, abrimos nosso coração para ouvir e deixar-nos penetrar pela mensagem, pela Palavra do seu Filho Jesus. Amém. Fonte: celebrando.org.br
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